quinta-feira, 1 de maio de 2014

Vó Enedina



Depois de 34 anos seguidos, hoje é o primeiro 1º  de maio que fico sem falar com minha avó.

Hoje é o dia do aniversário dela.
Era.

Ela faleceu em janeiro deste ano.

Desde que me conheço por gente, sempre estive com ela em seus aniversários.
Pessoalmente, tomando um chá da tarde e comendo ambrosia feita por ela (doceira de mão cheia), ou virtualmente, através de uma ligação telefônica.

Mas sempre estivemos juntas neste dia.

No ano passado, me atrapalhei nos horários e liguei bem tarde, quase no fim do dia. Ela atendeu dizendo:

"Achei que não ias ligar pra vó. Tava esperando desde cedo."

Hoje acordei pensando nela.
Em todos os momentos bons que passamos juntas.
Tentei pensar em um momento ruim e não passou nenhum na minha lembrança. Zero.

Ela com certeza é uma pessoa que só tenho coisas boas para lembrar.
Para sentir saudades.

Ela não era minha avó biológica.
Era minha madrinha na verdade.

Me batizou já velhinha (me lembro dela de cabelos brancos desde sempre) e me ensinou a chama-la de vovó logo nas minhas primeiras palavras. Ela não deixava chamar de dinda de jeito nenhum.

Senão me engano, bobó foi minha primeira palavra.

Nessa época, ela só tinhas netos meninos.
Acho que nos encontramos, para trocar amor uma com a outra.
Ela plantava violetas coloridas para que eu pudesse cuidar nas minhas férias, que obviamente, passava pelo menos 2/3 na casa dela.

Era minha tarefa. Era sua sabedoria.

Eu precisava regar, limpar e conversar com elas... "pois sem amor, nada cresce com força, Etienne" - dizia ela.

Meu avó Baltazar, marido dela, tão apaixonado por mim, sua neta emprestada, quanto ela, nos deixou quando eu tinha 7 anos.

Foram 26 anos só eu e ela.

Quando fiz minha primeira tatuagem aos 29 anos, meu irmão me dedurou. Ela arregalou os olhos castanhos e disse "E agora?! Como é que vais arrumar um marido decente parecendo que saiu de um presídio?"

Eu ri. Achei bonitinho.

Quando entreguei o convite do meu casamento, já sabendo que ela com seus 89 anos talvez não pudesse ir, ela me disse "Agora já posso morrer: Santo Expedito ouviu minhas preces".

Fofinha. 

Eu nunca tive coragem de dizer pra ela que não queria filhos.
Não queria queimar as poucas esperanças que ela ainda tinha na vida, todas elas em função dos netos.

Ela me disse no último natal, quando ficamos horas conversando por telefone, pois fiquei em SP, que eu era a neta que ela mais amava. Pois era a única que conversava com ela sem pressa.

...

Como essa saudade dói.
Como faz esse dia estar tão triste.
Como eu queria poder estar com ela tomando chá e comendo bolo.
Como eu queria fazer as unhas dela, como eu sempre fazia em nossos encontros nos últimos 10 anos, para que ela ficasse mais bonita.
Como queria sentir o cheirinho de lavanda que ela tinha nos cabelos.

Ela era tão vaidosa.

...

Sabe o que mais queria na vida?
Queria que ela tivesse me visto de noiva.
Queria ter sentado com ela para mostrar as fotos do meu casamento.

Mas não fiz isso.
Depois que casei não fui à Pelotas e ela morreu antes de ver.
Antes de termos esse nosso momento. Guardei bem-casados congelados pra ela.

Um dos maiores arrependimentos da minha vida, com certeza.
Não ter concretizado isso.

...

Enfim, espero que em vida ela tenha tido noção do quão grande foi meu amor por ela.
O quanto os carinhos no meu cabelo e os beijinhos no meu nariz foram bons.
Que eu a amo e vou sempre amar.

Vó Enedina, obrigada por ter existido na minha vida.

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